CRÂNIO E GAVETAS

21.9.05

eu não sei beijar demorado.

nem sei fazer nada demorado.

a não ser esquecer

(mas isso nem sei também)

18.9.05

??

passei tempo sem escrever porque tinha perdido a voz.

achei:

precisava só de tristezas

(e amor)

metonimia

sei que amo
em pedaços.

boca,
mãos,
olhos

(que se fecham
quase sempre
interrogando)

assim.

metonímias:
partes pelo todo.

14.9.05

morte

Uma noite dessas eu morri.
Subi escadarias imensas, em pisos de mármore branco.
Torres altíssimas e aviões que decolavam.
Não levava bagagem nenhuma.
Prestes a embarcar, percebi:
Morri nada!

E desci correndo as escadas pra voltar a viver.

7.9.05

aniversário

Eu tento festejar,
alegrar o coração vazio:
não sinto nada.

só cansaço,
vontade de chorar,
esperança de sóis.

Muito azul há em mim,
que sei.
Só preciso encontrar.

4.9.05

fim

eu encerro
dignamente
o que foi.

deixo o caminho aberto
para quem vier.

Já veio.
talvez,
e eu ainda entorpecida,
arranhada,
em ruína
(antiga, como disse)
nem percebi.

Vem.
Agora eu posso.

3.9.05

eu sinto a dor como farpas
não como manto,
não como noite que vem.
qual o problema se estilhaços pequenos
não sangram a ponto de esvair-me ?

se não sou dada a hemorragias,
não quer dizer que não dói.