Sal
1.Eu gosto daquela história bíblica das estátuas de sal. Nunca entendi por que não mármore ou granito, e sim sal. Mas quando olho, sinto muitas dessas estátuas - sal em excesso é amargo. E animais dão extensas lambidas em pedras de sal, que lentamente derrete. Sobra nada, a terra amarelada sobre a qual nada mais vai nascer. Então: algumas pessoas são estátuas de sal: fixas, esbranquiçadas, amargas. Provocam sede enquanto vão se desmanchando sob as línguas dos animais, sob chuva e sol. Nem percebem que ali não há mais alma. E que vida alguma será possível naquele chão.
2. Ainda fico raivosa. Ainda tenho vontade de gritar. Ainda sei dos desejos de morte. Ainda me estarrece a pequenez da mente. Ainda sinto medos. Ainda conheço o escuro - e a falta de sono. Mas agora olho pra luz.Ou tento.
3. Vi um programa sobre trançados em palha. Fiquei envergonhada de ser mulher urbana intelectual (!!) e branca. Um verme. Queria , por alguns instantes, ter aquilo tudo na alma, a mesma firmeza, a mesma convicção - as palavras certeiras : "essa casa eu estou construindo com o artesanato, e a ajuda do meu filho". E um sorriso de poucos dentes ao sol. (seria mais feliz assim, sem letras, sem investigações? só corpo e instinto?)
4. Eu senti, na sexta, a morte nas mãos. Mas achei, pretensiosamente, que eu seria capaz de salvar aquela vidinha que manchava de vermelho o punho do agasalho. A Natureza disse não. E eu apenas fechei os olhos e esperei. Sem lágrimas. Agradecida, no fim, pela lição sobre o meu tamanho.
2 Comentários:
Tb tenho medo das estátuas de sal humanas... Mais ainda de virar uma... Quando a gente vai tomar outro café e fumar um cigarro falando de espelhos?
Talvez seria mais feliz. Uma forma de alienação, não!?!? Mas n compensaria...as coisas boas n teriam graça...
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